top of page

Você não está naqueles dias, você está menstruada.

  • Foto do escritor: gritaprojeto
    gritaprojeto
  • 2 de jul. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 6 de jul. de 2021

por Beatriz Rodrigues


Um tema com tanto tabu envolvido que nem mesmo o chamamos pelo nome: “o chico” (um termo que deriva de “porco”, do português de Portugal), “aqueles dias”, “o vermelho”, “as regras”, “o fluxo”, “a visita”... tudo, menos MENSTRUAÇÃO. Quase todas nós mulheres provavelmente já sentimos vergonha - ou fomos levadas a sentir - da nossa menstruação, de forma que somos obrigadas a escondê-la e disfarçá-la de um milhão de formas inventadas pela sociedade patriarcal, desde não falar que estamos menstruadas (especialmente pros homens) até esconder os absorventes que usamos. Esse é um assunto permeado por preconceito, ignorância e machismo.


Mas nem sempre foi assim, sabia? Os povos antigos acreditavam que a menstruação deveria ser celebrada, porque indicava fertilidade, purificação, cura e benção. Era uma manifestação do poder natural da mulher e uma ligação feminina com a natureza. No entanto, à medida que o patriarcalismo ascendia nas culturas, a menstruação passou a ser associada a espíritos malignos e a aspectos negativas especialmente por dois motivos: a desinformação – não se entendia porque a mulher sangrava todos os meses e ainda assim não morria -, e os perigos do poder especial que se dava à mulher durante o período menstrual, que era, de certa forma, o de controlar sua sexualidade e seu próprio corpo.


O ápice da aversão à menstruação foi durante a Idade Média, em que as mulheres menstruadas eram consideradas, pelo catolicismo, impuras e demoníacas, negadas o convívio em sociedade e, inclusive, queimadas nas fogueiras. Até mesmo as toalhas usadas para absorver o sangue menstrual eram chamadas de “tampões monstruosos.” Mesmo já no século XX, cientistas tentaram provar, por meio de métodos falhos e experimentos falaciosos, que o sangue menstrual era tóxico, o que foi refutado em 1960. Foi só na contracultura, em que o movimento feminista defendia a reconexão da mulher com seu corpo, sua sexualidade e, consequentemente, sua menstruação, que o tema se tornou mais difundido e tratado com um pouco mais de naturalidade.


Ainda assim, a visão negativa persiste em muitas culturas; nelas, as mulheres menstruadas são impedidas de entrar em templos ou tocar qualquer objeto sagrado, não podem cozinhar, não devem ser tocadas ou vistas em público, além de serem criados vários mitos e estigmas que limitam a vivência da mulher durante o período e são usados pra oprimi-la. Segundo pesquisa da Sempre Livre, em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria, 57% das mulheres de 14 a 24 anos ainda se consideram sujas durante o período menstrual, o que mostra como é prejudicial para a autoestima das mulheres a tradição de tratar a menstruação como um assunto proibido, cheio de nojo e aversão.


Então, que tal começarmos a combater o tabu a partir da linguagem? Não, eu não estou “naqueles dias”, nem “de chico”, nem nada desses eufemismos. Eu estou menstruada e ponto.

Comentarios


bottom of page